sábado, 30 de maio de 2009

segunda-feira, 25 de maio de 2009


Bem vindos à Exposição "ÁGUA" do Bando de Barro no DMAE!

Nasci em uma pequena cidade cujo nome em tupi-guarani significa morada do sol. Talvez por ter vivido tão perto do sol e tão longe do mar, minha sede por água fosse desde cedo tão funda. As primeiras águas que conheci não foram as de rios ou de mares, mas as águas azulejadas das piscinas. Embora houvesse córregos em minha cidade, só os conheci mais tarde, onde já um pouco crescido brinquei com argila. As primeiras águas foram azulejadas. E encanadas. Já era uma natureza tomada pela cidade e disponível na ponta dos dedos, ao abrir das torneiras. Foram estas piscinas que envolveram meu corpo de menino, que já apreciava o incômodo do silêncio e o sabor da flutuação. Pouco a pouco, as piscinas transformaram-se em aquários, nesta época ainda com peixes, que eu passava horas a contemplar. Estes pequenos mundos, em que a comunicação se dava pelos movimentos e pelas imagens. Estes pequenos mundos, que envolviam seus integrantes sem isolá-los, fazendo-os tornarem-se dependentes de água, como nós do ar. Cresci num bairro chamado Fonte. Mas não demorei tanto para conhecer o mar. Ainda pequeno passava as férias em Santos, e depois, adolescente, admirava o mar de Ubatuba, e já refletia, com as crises da idade, como um peixe fora d’água. Nunca fui muito de aprontar artes. Mas um dia aprontei. Pendurei uma mangueira d’água com uma cachoeira numa árvore do quintal e, com a liberdade de quem ainda não conhecia os críticos, enchi tudo de flores. Minha mãe, um pouco assustada com a arte, pediu-me explicações. Quais as explicações que se dão à arte?

Texto de Hugo Fortes Júnior. Poéticas líquidas: a água na arte contemporânea. Em: http://ged1.capes.gov.br/CapesProcessos/926594-ARQ/926594_6.PDF